O que você aprendeu
com seu último relacionamento?
Me deparei com essa
pergunta em uma publicação no Instagram essa semana, na hora a resposta foi: “a
sentir raiva do meu ex”.
Hoje, alguns dias depois,
enquanto tomava meu banho e viajava nos pensamentos, me peguei pensando no
passado e obtive uma nova resposta para a mesma pergunta:
“Aprendi que ficar
acomodada em um lugar inquietante é insuportável!”
Com o passar do tempo
venho observando que a maturidade faz a gente analisar muitas coisas na nossa
vida. Passei a entender porque às vezes minha mãe ficava parada mexendo a boca
em silêncio em um diálogo imaginário e compreendi que muito provavelmente eram
as coisas que estavam entaladas na garganta dela e ela nunca teve a
oportunidade de resolver aqueles problemas do jeito que queria, ou que talvez
com a mentalidade madura dela ela respondesse de forma diferente.
É, eu sei, é um pouco
complexo, mas só quem se pega fazendo o mesmo é que vai entender. Às vezes a
gente passa por algumas situações que as pessoas não nos permitem expressar
aquilo que sentimos. Às vezes, com o passar do tempo, a gente analisa a
situação passada e vê que deveria ter respondido de outra forma. E aí não tem
como voltar no tempo, ou reencontrar aquela pessoa, para falar o que estava
entalado, então a gente faz o nosso teatro imaginário, usando as mesmas falas
daquela pessoa, com a nossa nova posição. Seja tomando banho, seja lavando a
louça, seja assistindo televisão.
Já fiz muito isso,
tenho muita coisa engasgada porque não tive a oportunidade de expressar o que
sentia para muita gente. E olha que eu sou o tipo da pessoa que não guarda nada
e fala tudo na cara!
Esse ano completo
onze anos solteira. Se isso é uma vitória, um livramento, ou um fardo eu
honestamente não sei dizer. Acho, na verdade, que é um misto dos três e talvez
de mais algumas coisas.
Vivi, por quase três
anos, em um relacionamento por conveniência. Eu estava tão acomodada naquele
“lugar” que quando percebi que estava me afundando cada dia mais em uma
situação que poderia ser irreversível e que eu poderia me arrepender para o
resto da vida, eu senti que era tarde demais, e que eu tinha perdido os
melhores anos da minha vida.
Fazia pouco tempo que
meu primeiro relacionamento havia acabado, era um amor que me deixava com
borboletas no estômago, ansiosa, eu era maluca e apaixonada por ele, ciumenta,
e fazia de tudo para agradar, mas éramos imaturos demais para saber administrar
uma relação e na busca por tentar sermos adultos e assumir essa
responsabilidade, acabamos nos perdendo e o namoro acabou.
O divórcio oficial
dos meus pais, seguido pelo primeiro namoro, e logo uma mudança de cidade
(sozinha) para poder fazer faculdade. Muita mudança na minha vida em menos de
três anos e eu só fui seguindo o fluxo. Começar a ficar com o carinha que ia no
ônibus para a mesma faculdade, da mesma cidade, e que era cunhado de uma prima,
juntou o útil ao agradável. O fato de ele ter 17 e eu 21 eu tive que engolir,
já que na época não concordava com diferença muito grande de idade em um
relacionamento.
Nenhuma família é
perfeita, a minha está longe de ser, mas perto da dele a minha era mais
tradicional e, pela forma que fui criada, o meu ponto de vista era que a dele
era toda errada. Terceiro fruto de uma traição, a mãe dele, casada com um
homem, se envolveu com o padrinho do seu casamento, quarenta e tantos anos mais
velho e teve um filho. Depois disso, assumiu a posição publicamente de “segunda
mulher” e teve mais dois filhos com o amante que sustentava as duas casas e
famílias.
A mãe dele sempre foi
vitimista, apesar de ter procurado mais da metade dos problemas que teve não
aceitava que aquilo acontecia com ela, que era injusto. Desde o começo nunca
nos demos bem, era explícito de ambas as partes que não gostávamos uma da
outra, mas por questão de convivência e pela educação que minha mãe me deu, eu
sempre respeitei ela. Até não dar mais.
Durante o primeiro
ano de namoro a família dele e a minha não aceitavam nós dois juntos, com
direito a torcida de ambos os lados para a separação acontecer logo além de
termos que enfrentar muito inferno da mãe dele e de uma tia minha. A mãe dele
gritava, porque sempre foi a maluca que fazia inferno e procurava briga no
primeiro silêncio que ouvia, que ele não deveria ter nascido. Imagina ouvir
isso da sua sogra?! Imagina ouvir isso da sua mãe?!
Peguei todas as dores
dele pra mim, tentei motivar para terminar a faculdade e sair da casa da mãe
logo para poder ter paz, porque isso não existia sob o teto dela. Em um ano de
namoro o pai dele, já muito debilitado por causa da diabetes e da idade, acabou
falecendo depois de um tempo em coma. Tentei ser o “lugar” para ele chorar,
acalentar as dores dele e dar a força para ele seguir em frente após a perda,
acredito que fiz minha parte naquele momento e não me arrependo disso.
Mas as intrigas da
mãe dele sempre continuaram e aguentamos muitas coisas vindas dela. Infelizmente
acabei assumindo um papel que não me cabia e virei a mãe dele, na ausência
dela. Era eu que dava carinho, era eu que cobrava os trabalhos da faculdade,
era eu que corria atrás, no meu horário de almoço do trabalho, para imprimir os
trabalhos dele. Sempre fui eu que fiz no relacionamento, e em troca nunca
recebi nada além de um namorado imaturo que não queria assumir as
responsabilidades da vida adulta.
Ouvi muita menina
naquela época reclamando que os namorados só queriam saber de ficar jogando, o
meu era um deles. Eu trabalhei de segunda a segunda durante quatro anos para
conseguir pagar a faculdade e me formar e não me arrependo disso. Mas eu perdi
muita comemoração em família, perdi muito tempo de descanso, fazia trabalhos da
faculdade de madrugada porque não tinha fim de semana para fazer, já que
trabalhava na Escola da Família, chegava de madrugada em casa porque a
faculdade era em outra cidade e passava pelo menos duas horas por dia na
estrada. E o pouco tempo que tinha livre e podia ficar em casa, descansar,
cuidar de mim, eu ficava na casa dele, esperando a boa vontade dele parar de
jogar para me dar atenção.
Perdi as contas de
quantas brigas tivemos por causa de jogo, por falta de atenção, pela perda de
tempo.
Um belo dia, depois
de perceber que se não estuda pega DP, ele resolveu que queria trancar a
faculdade e que eu deveria fazer o mesmo, porque a gente ia casar, ia morar com
o irmão dele (e a minha prima, que na época já estavam casados e moravam em
outra cidade) e que essa era a solução da vida dele.
Imaturo, iludido,
egoísta, fútil!
Trabalhar para pagar
as contas não queria, queria viver à custa do irmão. Largar do jogo para
estudar não queria, era mais fácil trancar a faculdade e ignorar que reprovou
em todas as matérias.
Além de tudo ainda
queria me levar para o mesmo buraco, como se tudo o que eu estava lutando para
conquistar, já no terceiro ano de faculdade, trabalhando de segunda a segunda,
depois de ter “largado” minha mãe e ter mudado para outra cidade para realizar
meu sonho de fazer faculdade fosse em vão.
O namoro que já
estava aos trancos e barrancos, depois daquele “pedido de casamento” me fez
acordar para a vida que eu teria futuramente se fosse burra o suficiente para
aceitar a ideia idiota dele de abandonar tudo a troco de nada, a troco de
terminar de criar um marmanjo que tinha tudo na mão porque a namorada (eu)
dava, já que a mamãe não queria saber do filho que não deveria ter nascido e
que era a rapa do tacho.
Nunca vou esquecer a
despedida que fiz dos poucos momentos bons e alegres que tivemos com a família
dele.
Eu sabia que aquele
aniversário, do casal de filhos de uma prima dele no sítio, no frio de junho,
com todo mundo sentado dentro de casa, perto do fogão aceso, com a porta e as
janelas fechadas para fugirmos do vento cortante lá fora, todo mundo sentado um
do ladinho do outro para juntar o calor dos corpos, conversando, se divertindo,
rindo e contando histórias, eu sabia que aquele era um adeus. Sabia que aquele
momento era para fechar o meu ciclo. Sabia que depois daquilo eu precisava sair
do comodismo que vivi por quase três anos namorando com ele e dar um rumo
descente para a minha vida.
Nunca imaginei um
futuro com ele, nunca me imaginei casada com ele, nunca consegui visualizar ele
sendo pai, quem dirá de filho meu. Naquela época eu só conseguia pensar em uma
pessoa como pai dos meus filhos, eu só conseguia imaginar uma vida e uma
família com outra pessoa, que não estava na mesma cidade que eu e que eu não
via há alguns anos, e que infelizmente acabei me afastando por causa do namoro.
A minha chave
finalmente virou e eu terminei o relacionamento.
Nunca derramei uma
lágrima depois do fim, tudo o que tinha para chorar eu chorei nos três anos de
namoro, com a falta de carinho e a falta de atenção dele, e o inferno que
passei namorando com ele vindo das intrigas que a mãe dele e a minha tia
faziam.
Apesar de tudo isso
ainda saí como a pessoa ruim do relacionamento, a que magoou o filho dela,
porque eu não sabia “como era a dor de uma mãe vendo o filho sofrer”. Aí ela
lembrou, quando viu o filho chorando, que tinha um filho que tinha que dar
atenção.
Ela ainda fez o
favor, anos depois, de continuar fazendo inferno na minha vida, espalhando pela
cidade que o casamento do filho dela com minha ex amiga (sim, ele casou menos
de um ano depois do término do namoro com uma amiga minha, no dia do meu
aniversário!) tinha acabado por minha causa, como se ele morando em São Paulo,
e eu 500km longe, fosse querer um ex banana e imaturo que não teve a capacidade
de virar homem nem depois de casar.
Hoje, vendo onde
estou e onde ele está, percebo que, apesar de ter me acomodado em uma relação
infeliz por tanto tempo, tive a sorte de ter a consciência de visualizar meu
futuro e perceber o que e quem eu não queria na minha vida. Eu sei que tenho
muita coisa para conquistar, muitos sonhos para realizar, mas vejo que ele, ao
invés de ir pra frente e evoluir, só declinou, e me entristece saber que eu
poderia estar junto com ele nessa situação.
Aprendi muito nesses
quase 11 anos solteira, aprendi a me ouvir e a me fazer ser ouvida. Aprendi a
lutar pelo o que eu quero, aprendi as coisas que não quero, e os tipos de
pessoas e relações que não quero jamais na minha vida.
Então, que bom que a
menina mulher de 23 anos teve maturidade suficiente e visão de futuro para
acordar para as coisas incríveis que ainda estão por vir.
E o que eu aprendi
com meu último relacionamento?
Que o respeito, o
amor, o carinho, a confiança e os planos é um caminho de mão dupla, que deve
ser traçado de mãos dadas, e não por um só.