Essa noite sonhei com você.

Não sei por que você apareceu se há algum tempo não via nenhuma foto sua ou me lembrava da época em que nos amávamos.

Foi tudo tão real que parecia verdade.

Você aparecia para uma festa de aniversário que eu não tinha te convidado e enquanto eu te observava de longe, na rua, esperando para entrar no meu apartamento, eu imaginava quem tinha te convidado já que eu não havia feito isso. Eu acreditava que se não te atendesse você iria embora.

Não foi o que aconteceu.

Quando alguns amigos chegaram você entrou também e ficou encostado no balcão da cozinha me observando enquanto eu tentava não te olhar nos olhos para não cair na tentação de chegar perto.

Mas eu não consegui me controlar.

Acabei virando e você me olhava com os olhos brilhantes e um meio sorriso como quem diz: “é, estamos nós dois aqui, juntos de novo”.

E então eu sorri de volta.

Cada um encostado em lados opostos de um espaço, se olhando profundamente e lembrando tudo o que vivemos juntos um dia.

Perguntei se podia te abraçar e você abriu o sorriso.

Me aproximei devagar, com medo de não ser real ou de não conseguir me controlar no abraço.

Toquei em você e, em câmera lenta fui me mexendo para te abraçar.

Você passou os dois braços pela minha cintura, me levantando do chão como sempre fez, enquanto eu te envolvia com meus braços.

Te abracei e fechei os olhos.

Fui sentindo aquele toque e aos poucos fui relaxando. Mas, por um segundo, pensei: “eu preciso apertar mais esse abraço”. E foi o que fiz, com medo da sua reação, mas com mais medo ainda de não aproveitar a oportunidade.

Então eu me entreguei ao momento.

Me deixei levar por aquele abraço tão profundo e intenso que só me fez lembrar mais da nossa história juntos.

E quando, aos poucos, fomos nos soltando, ficamos com os rostos colados.

Olhos nos olhos, uma mistura de emoções e sentimentos, tantas lembranças...

Então você me beijou.

E mesmo que eu pensasse que aquilo não fosse ter um futuro eu me entreguei àquele beijo.

Depois que acordei e fui me recordando de todos esses detalhes de um sonho com você, fui sentindo saudade de tudo e de todas as coisas boas que vivemos.

Impossível não me emocionar e segurar as lágrimas. A garganta travou e você provavelmente sabe como é essa sensação. A nostalgia tomou conta da minha manhã e é claro que mais uma vez fiquei me perguntando como seria se nos reencontrássemos hoje, depois de tantos anos.

Não tem como adivinhar, por isso deixo a imaginação rolar e me permito sentir essa mistura de sentimentos que sonhar com você me trouxe.

E mais uma vez digo, como aquela nossa música dizia, eu sei que “em algum lugar no tempo nós ainda estamos juntos”.

Há onze anos, nessa mesma cidade em que estou hoje, fiquei meses sem escrever. Não tinha inspiração para isso, me faltavam palavras, os sentimentos eram contraditórios, duvidosos, sem explicação. A primeira perda de alguém tão próximo, mesmo que eu já estivesse entrando na fase adulta, mexe muito comigo.

Quem me conhece sabe o quanto falo de sentimentos. Vivo à base deles, e desde que comecei a escrever textos e pensar em, um dia, escrever um livro com essas minhas crônicas malucas, percebi que para ter inspiração eu precisava estar sofrendo. Aí entendi o que muitos escritores diziam e viviam.

Mas eu vivo para o amor, ou pela falta dele. E, assim como há onze anos, hoje eu ando em silêncio. Provavelmente porque a última vez que quebrei a cara não foi tão intenso quando as outras vezes, afinal de contas, eu mal tive tempo de me apaixonar, apenas fiquei revoltada com a rejeição.

Percebi que depois de digerir os acontecimentos eu funciono muito bem com a exclusão. Excluo a pessoa dos meus contatos, quanto menos eu ver o nome ou a foto da pessoa, melhor. E o problema – ou talvez a solução – é que quando eu passo a ignorar aquela pessoa que um dia eu permiti entrar na minha vida, eu faço isso muito bem.

Descobri que às vezes eu preciso levar alguma rasteira da vida para voltar para mim mesma. É que quando eu estou com alguém, eu realmente estou com aquele alguém, me entrego de corpo e alma e esqueço de mim. Esqueço que eu sou a prioridade para mim mesma e que preciso me colocar em um pedestal, e não o outro.

E é isso que estou fazendo agora. Voltei a focar nos meus sonhos, a planejar o que quero realizar, a estudar e pesquisar sobre as coisas aleatórias que gosto...

E lembrei que me sinto uma pessoa incrível, que sou uma pessoa legal, uma boa companhia (chata, muitas vezes, mas quem não é?!), amiga para todas as horas, entre outras várias coisas boas. E eu preciso enaltecer isso em mim, porque só eu sou capaz de fazer isso.

Veja bem, não é que eu seja convencida, mas eu sou convencida. Você entende que se você não faz isso por você ninguém mais vai fazer?

O mundo está muito chato! E eu já me cansei desse lenga-lenga faz muito tempo! Então se eu posso fazer algo legal e gostoso eu vou fazer, por mim! E vou ser a pessoa mais egoísta que conseguir ser pelo tempo mais longo que puder, porque eu acredito que só assim eu vou entender a lógica da magia que é viver.

E se eu me acho tão incrível e tão foda assim, porque não posso conquistar os meus sonhos sozinha? Já fiz tantas coisas assim... Por que não posso ser a tal princesa que se salva sem o príncipe? Eu posso e eu vou fazer!

Então, se por acaso você me ver por aí, toda feliz, saltitante, dando sorrisos por receber uma trajada de vento no rosto, sorria também e compreenda que é porque eu finalmente subi no pedestal que criei para mim mesma.

Cansada de pessoas que não se permitem viver, sentir, falar, demonstrar.

“Ah, eu não mandei mensagem porque passou o timing, ficou tarde”.

Entenda de uma vez por todas que não tem “timing” certo, se você gosta da pessoa, se importa e se preocupa com ela, fala! Deixa a pessoa saber o que você pensa e sente porque ninguém tem bola de cristal!

Muitas vezes você vai achar: “ah, mas se eu mandar essa mensagem ele (a) vai pensar isso de mim”. Não importa, seja você mesmo (a), seja real, verdadeiro. De mentiras o mundo já está cheio, o mínimo que você deve fazer é ser honesto (a) com as pessoas que você gosta/ama. Tenha consideração pelo próximo, é o mínimo que você pode fazer em qualquer tipo de relação, seja de amizade ou amorosa.

Ninguém tem bola de cristal para adivinhar o que o outro pensa, sente ou quer. Muitas vezes só sinais não dizem muito, é necessário deixar claro para que não fiquem dúvidas.

Então, se você realmente gosta de alguém, demonstre! Não seja mais um filho da puta no mundo mentindo até para a sua sombra. Saiba o que você quer, e se não sabe, fale a verdade, se explique. Ninguém é obrigado a gostar de ninguém, mas quem gosta de você precisa saber se você gosta dele (a) ou não.

Ninguém morreu por saber se comunicar, e o diálogo é a parte essencial para a convivência humana. Portanto, pare de querer que o outro adivinhe e aprenda a se expressar melhor.